No que dá praticar o anti-futebol
Opinião de Walter Falceta
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1) Quem assistiu à peleja disputada no Morumbi sabe que o Corinthians maltratou a bola e muito mais o fiel torcedor. Não se pode dizer propriamente de mau futebol, posto que a equipe de Carille evitou a prática do ludopédio.
2) Poucas vezes a equipe alvinegra avançou além da divisória do gramado. Quando o fez, desprezou os fundamentos do esporte bretão. Passes errados aos montes, lançamentos sem direção, bicudas menos elegantes que aquelas da nobre várzea.
3) No time de Carille, os zagueiros Gil e Manoel detiveram o monopólio estéril da pelota, incapazes de vislumbrar um meio de iniciar a ação ofensiva. À frente, o fraco Gabriel abdicava da missão. O segundo volante, Matheus Jesus, quando acionado, enrolava-se e, não raro, presenteava os tricolores.
4) Quando o Corinthians lograva ultrapassar o meio de campo, normalmente servia Vagner Love, em péssima fase, incapaz de fazer o pivô, personagem de um teatro em que seu papel era devolver a redonda ao adversário. Há quem diga que a ineficiência deriva de seu deslocamento no plano tático. Mesmo quando no comando de ataque, no entanto, tem enfileirado performances medíocres.
5) Sem Pedrinho, a Fiel esperava de Mateus Vital algum brilho e empenho criativo. De seus pés, no entanto, não surgiu qualquer esperança. Ao fim do jogo, matou mal uma bola que escorreu pela linha lateral. Foi a síntese constrangedora do catadão de Parque São Jorge.
6) Válvula de escape em outras ocasiões, Fagner fez partida apática. O mesmo pode se dizer do outro lateral. A favor de Avelar, sublinhe-se o avanço em que foi barrado com ação faltosa. Na sequência da jogada, ocorreu o pênalti que decretou a vitória do clube do Morumbi.
7) O Corinthians de Carille parece viver de um modelo esgotado. Seu defensivismo obsessivo não se completa com uma armação efetiva para os contra-ataques. Sem a bola, o time se retrai excessivamente, uma linha de cinco ou quatro jogadores diante da grande área. Logo à frente, outra semelhante. Sobra um atacante isolado. Nesta noite, essa peça era o sempre frustrado Boselli, que até hoje não se achou na trama tática mosqueteira.
8) Quando o alvinegro recupera a pelota, a transição se dá de forma lenta e previsível. Não se encontram nesse padrão a ultrapassagem, a triangulação e o deslocamento em bloco. Nessas ocasiões, atrás do atacante de referência, o time se mexe em forma de ferradura, com um clarão no meio, área que deveria responder pela criação de jogadas.
9) Para quem, um dia, acompanhou as investidas corajosas de Tião ou Biro-Biro, para quem vibrou com as tabelas entre Sócrates e Palhinha, para quem viu as molecagens de Edílson e Marcelinho Carioca e para quem assistiu às triangulações ultra-dinâmicas protagonizadas por Paulinho, Danilo e Jorge Henrique, é duríssimo acompanhar o anti-futebol atual do Corinthians.
10) O quarto lugar no certame nacional pode ser considerado uma dádiva. Imagina-se, todavia, o tormento do torcedor no próximo ano, caso o padrão de anti-jogo seja mantido para a disputa da Libertadores. Aliás, seremos capazes de conquistar a vaga para o torneio continental?
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.