O processo eleitoral no Corinthians
Opinião de Alexandre Tavares
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Olá, caros leitores do Meu Timão! No artigo anterior escrevi sobre a necessidade futura de uma maior democratização do clube. A quem não leu, convido a conferir.
Desta vez vou explicar um pouco sobre como funciona na prática o processo eleitoral do Corinthians e qual o panorama atual que temos no clube. Este é mais um tema que é de suma importância e que, infelizmente, ainda é distante da maioria da torcida.
O que nós temos a ver com isso? Tudo! É daí que saem figuras, por exemplo, como o Roberto de Andrade e que vai refletir no que acontece no campo, no elenco que temos, na gestão da Arena, no endividamento e tudo mais. Então é importante ficar por dentro, acompanhar de perto e não apenas quando surgem as notícias no período pré-eleitoral. Lembrando que as próximas eleições no Corinthians serão em fevereiro de 2018.
Primeiramente, quem pode votar?
- Sócios patrimoniais com mais de 5 anos de associação. Votam em uma das chapas concorrentes composta por três membros: o candidato a Presidente da Diretoria (nome estatutário para o cargo de ''Presidente do Corinthians'') e vices (1º e 2º); também votam para eleger os membros do Conselho Deliberativo - anteriormente em chapas compostas por 200 candidatos (sistema antigo conhecido como ''chapão'' - na próxima eleição, devido à aprovação de alteração estatutária, serão compostas chapas com 25 candidatos cada e tomarão posse as 8 mais bem votadas. As nona e décima classificadas elegerão 50 suplentes.
Quem pode se candidatar em uma das chapas concorrentes ao Conselho Deliberativo?
- Sócios patrimoniais com mais de 5 anos de associação.
Quem pode se candidatar a Presidente do Corinthians?
- Para ser elegível, o candidato deve atender aos seguintes requisitos presentes no estatuto: mais de 10 anos como associado patrimonial, além de ter exercido pelo menos dois mandatos como Conselheiro ou ser Conselheiro Vitalício.
Percebam como o estatuto fecha o cerco para a candidatura à presidência e reduz o cenário a pouquíssimas possibilidades e quase que torna impossível o surgimento de uma terceira via. Não preenchem os dedos de uma das mãos os nomes que além de atenderem os requisitos exigidos, possuam força política para sustentar uma candidatura com chances reais de vitória dentro do contexto restrito do Parque São Jorge. E é basicamente por essa razão que as eleições giram sempre dos mesmos nomes que vocês conhecem: Paulo Garcia, Roque Citadini, Osmar Stábile e Andrés Sanchez (ou um nome que o grupo que ele lidera indique, casos de Mário Gobbi e Roberto de Andrade).
Temos outro problema sério. As eleições giram sempre em torno de nomes: nenhum destes grupos apresenta um projeto, um plano de governo realmente consistente, sustentável e que ofereça um planejamento de longo prazo e proporcional à grandeza do Corinthians.
Em suma, o sócio não vota em projetos, vota apenas em nomes e de acordo com sua convicção ou intuição de qual deles será o melhor (ou menos pior) ao clube. Isso é desanimador e, claro, uma realidade que só interessa e favorece a quem tem a máquina nas mãos. Quem deveria ter um interesse maior na elaboração e apresentação de projetos, seria justamente quem deseja se mostrar como melhor opção e tirar o grupo atual do poder, ou não? Mas não é assim na prática, basicamente as campanhas de oposição e da própria situação consistem em ataques mútuos e promessas vazias.
E já foi pior, muito pior: do início dos anos 1940 (!!!) até 1993, praticamente apenas três caciques se revezaram no cargo mais alto do clube (com pequenos intervalos com outros nomes ligados a eles): Alfredo Ignácio Trindade, Wadih Helou e Vicente Matheus. De 1993 a 2007, Alberto Dualib - que foi diretor de Vicente Matheus - cometeu o que Matheus e Marlene sempre chamaram de ''traição'' e venceu a eleição, se perpetuando no poder através de manobras por longos 14 anos. E, finalmente, em 2007 iniciou-se a era Andrés, que até pouco tempo antes era ligado politicamente a Dualib e Nesi Curi, e que ascendeu ao poder mediante os escândalos que envolveram a dupla (que se viu acuada e renunciou).
Fica claro que precisamos avançar em democracia, em posturas, em projetos, em ideias e na renovação de quadros. Mas isso não será possível de ser feito com tão poucos sócios. Já fomos um clube com 100 mil sócios, hoje temos um quadro total de aproximadamente 10 mil sócios, sendo que a maioria é da modalidade de ''sócio remido'' (aquele que não paga manutenção). Aparecem para votar cerca de 4 mil para decidir os destinos do clube. Ou seja, é um modelo obsoleto, insustentável financeiramente e democraticamente, e que precisa ser revisto.
O Corinthians é uma micro-célula de Brasil em falta de transparência de gestão, na ausência de projetos, em denúncias, em politicagem, no jogo de interesses. Os candidatos também são semelhantes: aparecem às vésperas do pleito com uma fotinho num papel, meia dúzia de frases de promessas num panfleto que chamam de ''propostas'' e ''projeto'', ataques aos adversários e conteúdo quase zero. O cenário é bem preocupante e sem muita perspectiva de mudança, infelizmente.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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