Wellington Bueno
Muito bom o texto e a pesquisa, porem o que vejo são duas estrategias diferentes e cada uma tem seu lado bom e seu lado ruim.
Corinthians por anos jogou num estádio publico e nunca teve a responsabilidade de resarcir or devolver valores de dinheiro publico utilizado na construção do Pacaembu. A prefeitura via (e ainda ve!) o estádio como deficitario e precisa que os clubes mandem seus jogos la, para que ela evite gastar com a manutenção, tipo o Corinthians quando empresta jogadores pros outros times pagando parte do salário.
A partir de 2014 para encher o bolso de vários envolvidos, decidiram por construir um novo estádio em SP. Não questiono o fator historico de ter um estádio e muito menos o valor esportivo da arena, uma vez que somos quase embativeis la desde 2014 (mais de 70% de aproveitamento). O modelo de negócio foi mal feito e gerou esse rombo que vemos hoje. Entretando quando ativados todas as possibilidades de geração do estádio, ele mesmo se paga. E no fim de tudo (espero!) ainda teremos um bem que praticamente duplica nosso patrimônio como clube.
Já o Flamengo preferiu manter a estrategia de anos (a mesma que o Corinthians até 2014) e não investir num estádio, até porque não cabe outro estádio de grande porte na cidade do Rio de Janeiro. Aliado a isso, a prefeitura do Rio, cheia de dividas com servidores precisa cortar gastos urgentemente, e o Maracanã é um elefante branco pra ela. Soma-se a isso a media de publico pifia na mão dos outros 3 grandes do Rio, e pronto. Temos um dono para o Maracanã que não precisou gastar nada para assumir o controle de um estádio e aumentar suas receitas exponencialmente por conta disso.
Esse era o modelo que eu gostaria que o Corinthians tivesse assumido em 2010. Caso quisesse uma casa pra chamar de sua, fizesse uma proposta para comprar o Pacaembu e renová-lo. Ainda sim teríamos um estádio muito bem localizado, onde nossa torcida estaria acostumada e pagando bem menos.
No fim das contas, vejo que cada um escolhe um modelo de negócio e isso a longo prazo tende a reverter a nosso favor, desde que a Arena seja quitada e as dividas referentes ao estádio estejam equalizadas.
em Bate-Papo da Torcida > A (i)moralidade dos estádios - Arena Corinthians x maracanã...
Em resposta ao tópico:
E é importante levantar um ponto pouco falado na mídia: O Maracanã e sua possível concessão ao Flamengo.
O Maracanã é um estádio público, que foi reformado pelo consórcio Maracanã Rio 2014 (formado pela Odebrecht, Andrade Gutierrez e Delta). O preço oferecido pelo consórcio para a reforma foi de R$ 705 milhões, porém o custo final aos cofres públicos foi de 1,2 bilhões (
), mais caro do que a construção da Arena Corinthians.Após a sua construção, financiada integralmente com dinheiro público, o Maracanã seria “privatizado”, assim fizeram uma licitação na qual ganhou o Consórcio Maracanã SA (Odebrecht, AEG e IMX, de Eike Batista), que administraria o Maraca por 35 anos, pagando a bagatela de R$ 5,5 milhões por ano durante 34 anos, ou seja, pagariam no fim dos 35 anos o total de R$ 187 milhões (
).De início dois clubes fecharam com o consórcio para realizarem seus jogos lá: Flamengo e Fluminense.
É evidente que um estádio de futebol tem como sua principal fonte de receita os jogos de futebol. Então, o investimento do Estado do RJ beneficiou diretamente (e principalmente) os dois clubes: Flamengo e Fluminense, pois ganharam um belíssimo estádio e não tiveram que desembolsar qualquer centavo por isso.
Contudo, também é evidente que o Consórcio Maracanã iria querer lucrar na exploração do Estádio e isso significava para os clubes (Fla e Flu) perder dinheiro. Então houve uma queda de braço entre os clubes e o consórcio na divisão das receitas do Estádio nos dias de jogo, com o Flamengo acertando inicialmente por 6 meses e algumas regalias: “Os percentuais de participação do Flamengo em cada propriedade não podem ser revelados devido a um acordo de confidencialidade. Mas o que se sabe é que a participação inclui estacionamentos, camarotes, assentos premium, bares e todo o restante da arquibancada. Tudo será dividido, quase meio a meio, entre as partes” (
). Os percentuais foram revistos e aumentados em um novo acordo, podendo chegar até 70% ( ).Apesar das brigas, a queda de braça deu certo para o Flamengo, que em 2013 teve uma espantosa arrecadação de bilheteria de R$ 48 milhões, praticamente R$ 40 milhões a mais do que o ano anterior. (
).Em 2014, o Maracanã continuou trazendo muito dinheiro ao clube (
), tendo arrecadado em Bilheteria R$ 40 milhões de reais (R$ 15 milhões líquido).Em 2015, o cenário se repetiu, com o Flamengo arrecadando R$ 43 milhões (R$ 18 milhões líquido).
Em 2016, diante de sucessivos déficits operacionais, o Consórcio do Maracanã começou a demonstrar interesse em romper o contrato com o Estado do RJ (
).Até 2016 então tínhamos o seguinte cenário: 1) Uma obra que custou 1,2 bilhões de reais pagos com dinheiro público. 2) Uma concessão deficitária para um consórcio privado. E 3) Um clube que arrecadou R$ 131 milhões de bilheteria, majoritariamente jogando no Maracanã (mandou alguns jogos fora do RJ, especialmente Brasília, onde consegue ter uma renda equivalente os jogos no Maracanã, mas que não muda o cerne desta análise, uma vez que o Mané de Garrincha é outro estádio feito com dinheiro público, que o Flamengo não colocou um centavo lá).
Em 2016 o Flamengo, apesar de ter realizado poucos jogos no Maracanã, dado o imbróglio entre a concessionária e o Estado do RJ, continuou lucrando com os estádios públicos, arrecadando R$ 39 milhões com bilheteria (R$ 17 milhões líquido), mandando os principais jogos no Maracanã, Mané Garrincha, Arena das Dunas e Kleber de Andrade.
A partir de 2016 também é que começa o pleito do Flamengo para administrar o Estádio do Maracanã:
Tendo em vista a vida de nômade que o Flamengo teve em 2016 e como isso afetou o desempenho esportivo do clube, em 2017, voltou a mandar seus jogos no Rio de Janeiro, especialmente no Maracanã (14 jogos) e no Luso-brasileiro (18 jogos), rebatizado de Arena do Urubu. Neste ano o Flamengo arrecadou R$ 62 milhões (R$ 17 milhões líquido).
Em 2018, já definitivamente de volta ao Maracanã (devido a problemas com a Arena do Urubu), o Flamengo obteve a receita bruta de R$ 44 milhões, mas apenas R$ 6 milhões de resultado líquido. Esse resultado líquido é importante para entender o desejo do Flamengo em administrar o Maracanã.
Evidentemente o Flamengo pensa em administrar o estádio sem qualquer responsabilidade com o custo acumulado do Estádio para a população, seja da própria reforma (de R$ 1,2 bi) seja das dívidas do consórcio (de alguns milhões). O Flamengo quer é pegar o estádio hoje, para gerir daqui pra frente, apenas arcando com os custos de organização de jogos e manutenção (que obviamente são ridiculamente menores do que construir).
E o sonho foi concretizado, ainda que provisoriamente, em 2019:
E o resultado nas finanças do clube foi importante, pois obteve quase R$ 100 mi de renda bruta (
) e provavelmente com uma renda líquida muito melhor do que nos últimos anos, já que não tem que dividir com ninguém mais (mas como o Flamengo ainda não divulgou os balanços, não é possível saber de fato quanto foi a renda líquida).O que podemos concluir disso?
Uma certa injustiça com o Corinthians e o modo como a Arena Corinthians é tratada pelo mídia.
Enquanto nós temos que ver rotineiramente notícias dizendo que o Corinthians é imoral, pois não paga a Arena (o que não é verdade, não obstante haja dívidas que estão sendo renegociadas), recebendo assim um incentivo de dinheiro público (ou doping financeiro), na realidade é o Flamengo que vem, durante anos desde a Copa, lucrando absurdos com os estádios públicos e ninguém fala nada.
Agora, a partir de 2020, com a possível nova licitação para administrar o Maracanã e o interesse do Flamengo em administrar o Estádio (
), teremos, de fato, um bem público, que custou mais de R$ 1 bi para os pagadores de impostos, sendo cedido a um clube que não terá qualquer responsabilidade com este custo para a população.Então, é importante ver agora como vão se posicionar aqueles que acusam o Corinthians de ter um ganho um estádio da Copa do Mundo (mas que também ganhou uma conta de mais de R$ 1bi) e como vão tratar o Flamengo, caso ganhe um estádio de Copa do Mundo, todavia sem a dívida.