Novamente as meninas carregaram o Corinthians nas costas. E faz tempo que isso vem ocorrendo
Opinião de Rafael Castilho
2.1 mil visualizações 24 comentários Comunicar erro
A conquista do tetracampeonato da Copa Libertadores da América, superando nosso principal rival, deve figurar na primeira prateleira das conquistas do Sport Club Corinthians Paulista.
Trata-se de uma conquista épica, da qual a história fará um grande juízo e para todo o sempre será lembrada.
A grandeza de uma conquista não se dá pelo tamanho do troféu, ou pelo nome da competição. São as circunstâncias que importam. O simbolismo dessa vitória tão importante.
Lembro das histórias que ouvi sobre as conquistas da Democracia Corinthiana em 82 e 83. Além se superar o rival dentro das quatro linhas, o Corinthians teve de superar o peso de ter se levantado contra o sistema. Muitos queriam ver o Corinthians na lona. Não era mais apenas um jogo ou um campeonato. Tratava-se da coragem, das ideias, da insubordinação, da ameaça de felicidade de um povo.
Com as meninas também foi assim esse ano. Elas ousaram se pronunciar quando muitos esperavam que elas permanecessem caladas. Ousaram levantar suas vozes quando muitos queriam que se fizessem de mortas. Foram brabas quando alguns as queriam obedientes.
Quando as mulheres se pronunciaram contra a contratação do técnico Cuca, o mundo caiu sobre elas. Alguns que apenas toleravam e fingiam alguma simpatia pelo futebol feminino, passaram a atacar. Foi estranho é muito triste de ver, mas muitos se sentiram na obrigação de torcer contra as meninas por paixões políticas absolutamente estranhas ao corinthianismo.
Pudera, a coragem de alguns é ameaçadora na medida em que acaba por revelar a covardia de outros.
Quando eu digo que as meninas têm carregado o Corinthians nas costas, não me refiro apenas aos títulos do futebol feminino em contraste com a ausência de títulos do masculino.
A verdade é que as mulheres têm superado todas as dificuldades e demonstrado grande amor pelo Corinthians. Numa triste realidade em que muitos pais se distanciam, quando não abandonam seus filhos, as mães corinthianas vêm transmitindo o corinthianismo para seus filhos, formando as próximas gerações. Não é raro ver as mulheres fazendo o corre para conseguir um ingresso para suas crianças. Levando ao jogo em seus braços. Enfeitando a casa com as cores do Corinthians em dias de jogos.
Essa dedicação se canaliza em energia que vai para dentro do campo. Emociona ver como as meninas correm e se entregam durante o jogo. Não existe bola perdida, não existe tempo para pensar no cansaço. Elas disputam todas as bolas com afinco. Elas possuem coragem, arriscam seus corpos, vivem o jogo e ao mesmo tempo jogam a vida. Natural emergir uma pergunta inevitável: já pensou se o masculino jogasse com esse amor e com essa garra?
Certa vez ouvi alguém dizer que as mulheres são os negros do mundo.
Pois bem, a luta incansável das mulheres, seja dentro de campo, sejam aquelas que resistem pelo direito de torcer, superando todos os preconceitos, nos coloca ainda e para sempre como o Time do Povo.
As mulheres são hoje a maioria da torcida do Corinthians. Também, o Corinthians é a maioria entre as mulheres. Isso não é por acaso. Com todos os problemas que enfrentamos. Mesmo com todas as coisas ruins que acontecem na nossa instituição, o Corinthians ainda é uma causa. Ainda permanece como um vetor para dar vez e voz ao seu povo.
E se as minas escolheram o Corinthians, é porque existe um sentido muito poderoso em tudo isso.
Nos braços e no amor dessas mulheres o Corinthians se acolhe. Não perde suas raizes, preserva sua identidade e se ergue como uma bandeira e uma esperança para sua gente.
Mulheres corinthianas, dentro e fora do campo, obrigado por existirem. Parabéns pela luta e pela consagração dessa vitória tão importante.
Vai Corinthians!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.