Meu Timão

Eu sofri demais em uma época em que o torcedor era tratado pior que gado. Apanhei da polícia porque meu ingresso de papel desmanchou com a chuva, no Canindé. Ainda vi o time perder a final da Copinha para o Louzano Paulista. Eu vi o Gralak fazer um gol de falta de 40 metros na final da Copa Bandeirantes, não sem antes andar da Av. Santo Amaro até o Morumbi porque não deu pra pegar nenhum ônibus. Aliás, nunca dava.

Eu apanhei da Mancha Verde, voltando pra casa de um Corinthians x Botafogo que jogaram no mesmo dia que o Palmeiras.

Eu parei de ir no estádio por pura falta de dinheiro, eu passei um período bem ruim na minha vida de 2000 até 2006 mais ou menos. E depois meio que não tive mais vontade de voltar.

Veio o rebaixamento, e um pouco de não querer passar por perrengue. Chega uma fase da sua vida, quando você conquistou algum conforto, que fica difícil se sujeitar a perrengue.

Porém, meu sobrinho que mora na França veio para o Brasil passear e pediu pra eu levar ele na Arena. Ele nem torce pelo Corinthians, é torcedor do Liverpool e do PSG. Mas ele nos admira. Vai eu, ele e o outro sobrinho. Esse corintiano de berço, sócio torcedor, que direto sai daqui de Sorocaba pra ir na Arena.

Eu não vou falar nada para o que veio da França, porque esse tipo de coisa não se fala. Ele não faz ideia do que vai presenciar.

Ele fala muito dos ultras do PSG, mas na moral, ele não faz ideia do que é a Fiel. Ainda mais em jogo decisivo.

E eu, no alto dos meus 43 anos, vou sair aqui de Sorocaba pra ir pela primeira vez na Arena. Eu que já tomei chuva no Morumbi, no Pacaembu, no Canindé e até no Parque Antártica.

Claro que vai ser tudo diferente. Eu consegui agora há pouco comprar meu primeiro carro zero. Tenho um bom conforto, uma boa profissão. Vou de carro até a Arena, vou estacionar lá dentro.

Tentei vestir a camisa que tenho guardada e ela obviamente não serve mais. Então vou ir na loja da Arena comprar uma camisa pra mim e para o meu sobrinho.

Pensando em tudo isso, dá um aperto no peito. Passa um filme na minha cabeça, do quanto esse time marcou cada fase da minha vida. O quanto de raiva que me fez passar, o tanto de lágrima que arrancou de mim.

Eu me lembro de ouvir o Silvério no rádio, porque nem tinha pay per view. E quando tinha, eu não tinha dinheiro. Hoje eu pago todos os serviços que passam jogo do Corinthians. E no sábado eu vou ir de carro até a Arena. Vou comprar camisa oficial.

Como a minha vida mudou. E como eu sou grato a tudo que aconteceu de bom e de ruim na minha vida.

Mas uma coisa nunca vai mudar.

Minha vida sempre será um Vai Corinthians!