A temporada de 2019 marcou no Corinthians o fim de uma era não apenas em relação ao estilo de jogo mais defensivo que prevalecia em terras alvinegras havia mais de uma década. O Timão também adotou forma mais arrojada de negociar – ainda que no papel siga cauteloso na hora de planejar e formalizar as expectativas da sua próxima temporada.

Inspirado em casos de sucesso do mercado da bola brasileiro, o Corinthians alterou a abordagem que faz principalmente nos jogadores que deseja como reforços.

Até então, o Timão se valia muito mais do recente passado muito vitorioso para seduzir jogadores. A ideia agora é, enquanto negocia valores e direitos econômicos com clubes e empresários, vender diretamente aos atletas um projeto – em suma ligado à disputa por títulos, se valendo da imagem em alta do novo treinador, Tiago Nunes, ex-Athletico-PR.

Foi assim que o Flamengo conquistou nomes de peso como Rafinha, Filipe Luís e Gerson no meio do ano, por exemplo – com o diferencial de se tratarem de peças com salários bem acima do teto corinthiano. O Palmeiras adota abordagem similar em meio à obsessão pela Libertadores que marca a "era Crefisa" ao longo de boa parte desta década.

A nova estratégia no Corinthians passa diretamente pela falta de dinheiro. Percebendo que não há como competir financeiramente no atual cenário com times como Flamengo e Palmeiras, ainda que conte com o BMG para determinados empréstimos, o Timão tenta seduzir os atletas mais pelo projeto do que pelos valores colocados à mesa nas tratativas.

Foi assim, por exemplo, com Luan. O então camisa 7 do Grêmio, eleito "Rei da América" em 2017 e dono de um dos salários mais altos no clube gaúcho, topou reduzir seus vencimentos para disputar um potencial protagonismo no time de coração, que, no gogó, promete brigar por Libertadores, títulos nacionais e até pelo tetracampeonato paulista, inédito na história alvinegra.

Também tem sido assim nas tratativas com o Goiás por Michael. Ainda que os clubes passem publicamente a impressão de irredutibilidade em seus posicionamentos atuais, o Corinthians mantém otimismo por entender primeiro justa sua proposta e segundo confiar na vontade do jogador em trocar o clube esmeraldino por um projeto que passe pela Libertadores e por possibilidade de títulos mais expressivos do que os que disputaria no time de Goiânia.

Por meio de empresários colombianos que fazem a ponte entre Corinthians e Junior Barranquila, o Timão também espera convencer o volante Victor Cantillo mais pelo projeto de promoção ao futebol brasileiro do que pela oferta inicial feita ao clube da Colômbia. Nesta quinta-feira, o técnico da equipe, Julio Comesaña, confirmou a intenção do atleta em deixar o país e negou que a agremiação local impedirá eventual transferência desejada pelo jogador.

No papel, discurso é cauteloso

Se na hora de contratar jogadores considerados de primeira linha entre aqueles negociáveis do mercado o Corinthians vende (e realmente mira) um projeto campeão, na hora de lidar com as finanças o clube prefere adotar projeção mais cautelosa para o ano que vem.

O Flamengo, por exemplo: atual campeão brasileiro e da Libertadores e tendo usufruído justamente de tal projeto para reforçar o elenco de 2019, já formalizou na previsão orçamentária de 2020 receitas que estimam atingir, no mínimo, a final da Copa do Brasil, as semifinais da Libertadores e as primeiras posições do Campeonato Brasileiro.

O Timão, por sua vez, estima faturar com premiações de, no mínimo, oitavas de final da Libertadores e da Copa do Brasil, além de um sétimo lugar no Brasileiro. Cabe lembrar que o Corinthians já inicia a Copa do Brasil de 2020 nas oitavas de final; e terminou a última edição do Brasileirão em oitavo, apenas uma posição abaixo do projetado para o ano que vem.

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