A esta altura, acredito que todos já conhecem a 'narrativa oficial' sobre o sucesso do Flamengo em 2019. Só pra mantê-la fresca na memória, vou apresentar a versão resumida:

'Em 2013, o presidente Bandeira de Mello assumiu um Flamengo alquebrado, se afogando em dívidas e sofrendo com anos de administrações irresponsáveis. Ele tomou a decisão mais difícil que um mandatário pode tomar no futebol, montou equipes humildes por três temporadas, correu risco de rebaixamento, mas lançou as bases sobre as quais a nova administração pode construir um time estrelado.'

Esse tópico procura desconstruir essa narrativa, e buscar o real motivo por trás do sucesso do Flamengo em 2019, e as lições que isso trás pra o Corinthians e demais clubes.

A realidade é a seguinte: o ano de 2019, no qual a equipe carioca obteve impressionante superioridade sobre os rivais no plano nacional, tem pouquíssimo a ver com o 'sacrifício' da gestão Bandeira de Mello. Na verdade o sucesso da equipe carioca tem nome, ou melhor, dois nomes: Lucas Paquetá e Vinícius Júnior.

'Como dois jogadores que não atuaram pelo Flamengo em 2019 podem ser os responsáveis pelos títulos dos cariocas?', alguns podem se perguntar. Os mais atentos já entenderam. Lucas Paquetá foi vendido com status de craque ao Milan, rendendo ao clube carioca 35 milhões de euros. Logo em seguida, foi confirmada a venda de Vinícius Júnior, ainda reserva no plantel flamenguista, por 40 milhões de euros.

Ou seja, o sucesso do Flamengo em 2019 tem tudo a ver com Bandeira de Mello e sua gestão, mas não pelos motivos em geral citados. Não foi a austeridade financeira que levou o time carioca a esbanjar milhões nas janelas de transferências e contratar um treinador internacionalmente renomado, mas apenas duas vendas assustadoramente certeiras, de dois jovens que renderam, juntos, mais de 320 milhões de reais ao Flamengo.

E qual a lição para o Corinthians? A de sempre, precisamos, por aqui, de uma gestão responsável e profissional. Mas isso não significa necessariamente montar times medíocres por anos. Como tem se tornado lugar comum no fórum (que bom!), fazer contratações certeiras e muito bem estudadas é muito importante.

Contudo, não podemos nos esquecer que uma parte fundamental da saúde financeira de qualquer clube, tirando talvez os supergigantes europeus, é a venda de jogadores.

Quando o Corinthians vai contar com 320 milhões em caixa, em apenas um ano fiscal, oriundos de vendas de jogadores? Não sei, até porque acaba dependendo de fatores imponderáveis, mas tem pouca ou nenhuma chance de acontecer enquanto: 1. As categorias de base do Corinthians forem ocupadas não pelos melhores jogadores, mas por aqueles cujos familiares e empresários tem relações com diretores e conselheiros; 2. Enquanto o Corinthians não tiver 100% dos direitos econômicos dos jogadores das suas categorias de base (Mário Gobbi cogitou implementar isso quando era presidente, mas acabou cedendo às pressão dos conselheiros e empresários parasitas - a única forma é a torcida fazer muita pressão); 3. Enquanto o clube vender seus jovens jogadores muito abaixo do valor de mercado, em tentativas desesperadas de esconder as falcatruas financeiras e agradar empresários aliados.

Essa, pra mim, é a real lição que 2019 deixa ao Corinthians.

PS.: Depois de um post tendo que falar o nome do time carioca tantas vezes, não resisti colocar a foto do Mundial de 2012. Não tem nada a ver mas tem tudo a ver.