A bola na cabeça de Romero
Opinião de Walter Falceta
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O óbvio ululante: é preciso ter coragem, disputar o jogo aéreo, meter a cabeça na bola, como faziam Del Debbio e Goiano, Baltazar e Geraldão. Raça!
Mas também é necessário o refinamento lúdico. Convém trocar o movimento e botar a bola na cabeça.
Porque é o que tem faltado ao esporte das multidões: o uso da cabeça e do que ela carrega como tesouro cinzento.
Pensar a bola, com a cabeça, e não com o fígado, como preferem alguns esmeraldinos, como Felipe Melo e Dudu.
Quando circula antes na cabeça, correndo nos mais elegantes circuitos neuronais, a bola se educa para a aventura do gol.
Convertida em aglomerado de neutrinos, vara magicamente os átomos de dois embasbacados adversários que ficam pelo caminho, conforme experimentou o craque Pedrinho.
Faz parada técnica no distribuidor da jogada, o Jadson deste 13 de Maio, que mais parecia um engenheiro de pontes espaciais.
Segue na precisão da luz ao homem surpresa; é Maycon, camisa 8 do Magrão, que a remeteu diagonal e maliciosa ao portal do paraíso da meta Norte.
E é a bola na cabeça, mesmo no pé, compreendida em sua rebelde e ilimitada redondez, que completa rodrigueira o raciocínio coletivo e cinético. Rede! A galera explode!
A cabeça na bola é o ofício valioso do zagueiro salvador e do centroavante matador. É a alma do ludopédio que sua, sofre e conquista.
Diferentemente, a bola na cabeça é artifício de quem nela se projeta, hegelianamente, sentindo-se nela, tornando-se ela própria. É o sujeito convertido em objeto. É o objeto convertido em sujeito .
Vira aquela redonda enamorada, que pensava nos calcanhares de Sócrates.
No cair da tarde de Itaquera, ela se manifestou mais uma vez. Serviu-lhe de mensageiro o inquieto Romero, artista que desvenda e desenha todo o conceito.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.