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O orgulho de ser imigrante corinthiano no Chile
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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O orgulho de ser imigrante corinthiano no Chile

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O orgulho de ser imigrante corinthiano no Chile

Torcida marca presença também no Chile

Foto: Arquivo / Fiel Chile

Na minha juventude, quando morava na Baixada Santista, era relativamente fácil ir aos jogos do Corinthians, mas não tanto em comparação com quem mora na capital – se bem que dizer alguma distância em São Paulo é “fácil” pode soar como sarcasmo da pior espécie, pois pra quem não mora no centro, se locomover dentro da cidade é quase o mesmo que ir de Santos à Avenida Paulista, por exemplo.

Por isso, e porque somos uma nação de milhões torcedores espalhados pelo Brasil e pelo mundo, sempre pensei nos corinthianos que vivem ainda mais longe de Itaquera – ou do Pacaembu, na época.

São muitos milhões os que vivem no interior de São Paulo, e que esperam que o Paulistão pra que Coringão visite suas cidades ou microrregiões. Outros tantos moram em outros Estados, e dependem dos jogos do Brasileirão e da Copa do Brasil pra ter aquela chance de ver uma partida na torcida visitante. Agora com o time feminino, vieram mais oportunidades, mas ainda assim são poucas durante o ano.

Quis o destino que eu fosse parar ainda mais longe. Saí da minha São Vicente natal e cruzei a fronteira do sul do país. Morei dois anos na Argentina, e em 2006 me estabeleci no Chile. Desde então, posso falar o que é ser corinthiano fora do Brasil, ou ao menos em outro país sul-americano.

Andar com uma camiseta ou jaqueta do clube que eu amo pelas ruas de Santiago é quase como carregar a bandeira do Corinthians e defendê-lo de alguma forma diante de todo um país, e por isso eu tento fazê-lo ao menos 3 ou 4 vezes por semana. Muita gente te olha, e olha pro teu distintivo, e olha pra tua cara, e você imagina o que estão pensando, mas segue firme e de cabeça erguida, como tem que ser. Também tem as vezes em que a pessoa que te cruza na rua é um turista brasileiro: se fizer cara feia, dane-se, mas quando é eventualmente outro corinthiano, é inevitável um “VAI CORINTHIANS” – e dizer isso em solo estrangeiro é mais uma forma de marcar território.

Também aproveito pra tentar catequizar os amigos chilenos. Afinal, somos uma religião, e às vezes me pego difundindo não necessariamente a palavra, mas a história que os nossos profetas construíram com os pés: Basílio, Sócrates (a preferida dos chilenos é a da Democracia Corinthiana, e também a que mais gosto de contar), Marcelinho, Rivellino, Neto e tantos outros. Comecei convencendo o meu filho Vicente, que é chileno, tem 11 anos e gosta especialmente dos jogadores que falam espanhol – embora o seu preferido atualmente seja o Cássio atajador de penales, como ele diz.

Estar no Chile ao menos me permite sonhar com uma visitinha alvinegra uma vez por ano. Imaginem vocês o que é um sorteio de Libertadores ou Copa Sul-Americana pra quem depende disso pra ver um jogo no estádio. Não basta cair no grupo assim ou assado, nem me interessa se será uma chave fácil, o importante é que ao menos um dos rivais seja uma equipe do Chile, não importa qual.

Cheguei aqui em 2006 e tive essa sorte já no primeiro ano. Pude ver o que talvez foi o jogo mais emocionante da minha vida: uma vitória de 3x2 contra a Universidad Católica, com três jogadores a menos e um Tévez jogando por cinco. Depois disso amarguei dez anos de azar, e só consegui ir ao estádio nas minhas visitar esporádicas ao Brasil.

Torcida se reúne para acompanhar o Corinthians no Chile

Torcida se reúne para acompanhar o Corinthians no Chile

Arquivo / Fiel Chile

Até que chegou 2016, e a oportunidade veio com uma pequena traquinagem do destino. O sorteio nos cruzou com o pequeno Cobresal, obrigando a ir até o deserto do Atacama, um trajeto que é difícil até pra quem mora nas proximidades de Santiago. Foi uma prova, pra ver se o corinthiano gosta mesmo de uma adversidade, e nós mostramos que se tiver que ir até o meio do nada pelo Coringão a gente vai – até porque, se teve gente que veio desde São Paulo e de outros lugares do Brasil pra esse jogo, por que os que moram no Chile não fariam o mesmo?

Foi nessa ocasião, na empreitada até o deserto mais seco do mundo, que um grupo de corinthianos que mora neste país se conheceu, e também alguns chilenos simpatizantes do nosso Timão. Humberto Capello Reis, um corinthiano que mora no Chile desde criança (há 25 anos), e que também se aventurou pelo deserto por amor ao Corinthians, lembra com essa partida marcou o nascimento da Timão Chile. “A gente foi se conhecendo na ida, mas aos poucos, cada um foi de um jeito, e lá em El Salvador (cidade do norte do Chile onde o jogaram Cobresal x Corinthians) já éramos uns nove ou dez. Na volta, nem todos vinham no mesmo busão. Eu vinha em um de dois andares, onde a galera estava meio dispersa, mas aí o carro quebrou e tivemos que mudar pra outro de um só andar, e ficamos todos ali mais próximos. Começamos a contar entre nós a história de cada um e o sacrifício que foi pra cada um fazer isso pelo Corinthians”.

Ali no busão surgiu só um grupo de WhatsApp, e com o tempo esse grupo se transformou na Torcida Timão Chile. Das pouco mais de dez pessoas naquele busão, hoje somos já uns 25, entre brasileiros e chilenos fanáticos pelo Corinthians. Assistimos os jogos juntos, especialmente clássicos e confrontos decisivos, ou na “sede” (que na verdade é o apartamento do Capello, um dos principais organizadores dos eventos) ou em algum bar.

Somos poucos, mas temos histórias das mais variadas. Tem o Robert Sales, que trouxe boa sorte, porque chegou ao Chile no ano passado e desde então todos os anos temos ao menos uma visita do Coringão pra cá. O Herlon Amâncio está há mais tempo, tanto no Chile quanto na torcida, foi um dos que também participou daquela operação Maloqueiragem no Deserto.

Uma das histórias mais emocionante é a da Raida, uma chilena cujo pai era corinthiano roxo e a ensinou a amar o Coringão. Seu Eliel Ramos sonhava em ver o Corinthians jogando no Chile. Nesta quarta-feira, ela vai ao estádio pra cumprir o sonho do pai, e homenageá-lo. Ela vai ao estádio com a sua mãe, Dona Isabel, e seus dois irmãos, Ignacio e Matías, também chilenos-corinthianos. O Sebastián Herrera é outro chileno, que se tornou corinthiano primeiro pela influência do ex-sogro, e depois porque a paixão da Fiel o contagiou. Ele conheceu o clube em plena época do rebaixamento, e aquele compromisso da torcida no momento mais difícil da nossa história marcou também o Sebastián – tanto que ele trocou de namorada, e de sogro, mas não abandonou mais o amor pelo Coringão.

Já o Rodrigo Ribeiro, outro dos que estavam desde o começo, voltou ao Brasil, porque vida de imigrante também tem dessas. Mas mantém o contato com o grupo e a torcida sempre, e será presença certa na partida de volta dessa chave, em Itaquera.

Em 2016, alguns de nós, como o Capello e o Sebastián, ajudaram as organizadas que foram a El Salvador a entrar com as bandeiras no estádio. Este ano, vamos tentar entrar com a nossa própria bandeira. Portanto, se você ver na transmissão um pano dizendo “O Chile É Fiel”, saiba que por trás dele estão essas histórias e muitas outras mais.

A partir da criação da Timão Chile, passamos a ter mais sorte nos sorteios. No ano passado, pudemos ver uma vitória contra a Universidad de Chile com golaço do Rodriguinho, pela Copa Sulamericana, dias depois de termos conquistado o título paulista. Neste ano, a sorte veio só no mata-mata, mas o importante é que veio, e lá estaremos nós de novo, para empurrar o Coringão neste embate contra o Colo-Colo.

Muita gente também virá de São Paulo e até de outros lugares do Brasil. Estaremos aqui para recebê-los e fazer do nosso cantinho na arquibancada o lugar mais barulhento do mundo, e gritar pro Chile e pra toda a América Latina que AQUI TAMBÉM É CORINTHIANS!!

Torcedores do Corinthians no Chile juntos pelo Timão

Torcedores do Corinthians no Chile juntos pelo Timão

Arquivo / Fiel Chile

PS.: Este texto também é uma forma de contar as histórias desses corinthianos que vivem longe, no caso, especificamente os que moram no Chile, mas também é uma homenagem aos corinthianos que vivem em outras latitudes, em outros países da América Latina, ou na América do Norte, África, Europa, Ásia, Oceania, Antártida, onde for. Quem tiver relatos semelhantes e quiser aproveitar os comentários pra contar suas experiências será muito bem-vindo. Aqui também é fraternidade entre imigrantes!

Veja mais em: Libertadores da América e Torcida do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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