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O Efeito Borboleta
Rafael Castilho

Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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O Efeito Borboleta

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O Efeito Borboleta

E se Jô não tivesse marcado aquele gol?

Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

Pensem bem, será que tudo o que acontece hoje na vida do Corinthians seria a mesma coisa se aquela bola do Jô não tivesse entrado no final do Corinthians x Palmeiras, em 22 de fevereiro de 2017?

Quantas coisas aconteceram de lá pra cá. Será que teríamos vencido o bicampeonato Paulista? Teríamos ganho o nosso sétimo título brasileiro?

O fato é que o Corinthians entrou em 2017 sendo considerado a quarta força do futebol paulista.

Se os corinthianos pudessem ter assinado um documento cósmico em que decidiriam sobre o nosso futuro imediato, escolhendo entre duas opções: na primeira opção, o Corinthians terminaria o ano de 2017 em décimo colocado do campeonato nacional e não correria risco algum de ser rebaixado ao final daquele ano. Na segunda opção, também hipotética, o Corinthians se lançaria no mar de incertezas. Sem segurança alguma. Poderia até tentar ser campeão, mas também correria o risco de ser rebaixado e sofrer eventuais humilhações ao longo do ano. A verdade é que antes daquele gol do Jô, muitos corinthianos possivelmente seriam conservadores em sua decisão e assinariam pelo menor risco. Sairia barato, aparentemente.

O time campeão de 2015 havia sido desmanchado ao longo de 2016. O segundo semestre foi deprimente. Tínhamos contratado uma porção de jogadores, a maioria deles descolados das nossas características históricas e tinham o pé mole demais. Sobravam incertezas. Carille, todos supunham, não aguentaria a bucha de segurar aquele rojão.

Nesse jogo de fevereiro de 2017 entraríamos em campo para ser arrasados pelo Palmeiras. Eles estavam certos disso. Vieram para nos humilhar. Essa seria a lógica.

Mas acontece que o Corinthians sempre contrariou a lógica.

A Fiel se mobilizou como nunca. Não somente na base do grito da torcida. Se mobilizou numa onda energética muito forte.

Carille tirou os “pés moles”. A torcida abraçou o time. Abraçou mesmo. E não foi tão difícil fazer isso.

Desde a chegada de Ronaldo, que convergiu com grandes momentos vitoriosos num enredo maravilhoso e até mesmo romântico, pois contava uma história heroica, com a “curva dramática” do rebaixamento, desembocando na consagração do segundo título mundial, o Corinthians viveu momentos de êxtase e alegria. Foram escritas páginas felizes da nossa história. Depois de Ronaldo, dos títulos, da Libertadores, Mundial, depois de tudo, acordamos no estádio que a torcida sonhou tanto. Não me venham dizer que não sonhou porque sonhou sim. Sonhou, protestou, lutou e construiu. Tudo foi muito mágico. A euforia corinthiana coincidiu também com momentos de grande otimismo e bonança na economia brasileira. Realmente, acreditávamos num futuro de alegria e fartura.

Vencer, conquistar, ganhar, comprar. São coisas muito boas. Mas porque digo tudo isso? Se por um lado havia um sentimento de euforia coletiva na Fiel Torcida, por outro lado havia também um sentimento de angústia que não conseguíamos muito bem entender o porquê.
O fato é que, de algum modo, vimos e sentimos o Corinthians, muitas vezes, um pouco mais distantes de nós. Escapando por nossos dedos. Os ingressos ficaram muito caros. Muita gente que antes não gostava de futebol ocupando nos estádios o lugar de quem sempre carregou o Corinthians nas costas. Muito oba oba.

Voltando para fevereiro de 2017. Naquele jogo, de algum modo, poderíamos torcer para aquele time que aprendemos a amar. Com jogadores simples e com cara de corinthianos.
Sejamos sinceros? O Ronaldo no Corinthians foi espetacular. Não quero falar de ídolos, mas de identidade. A verdade é que na vida a gente é muito mais Romero que Ronaldo. Um componente fundamental que torna o corinthiano e o Corinthians diferentes é a identidade. O Corinthians joga o jogo do mesmo jeito que a gente vive a vida.

Nos vimos em campo naquela noite. Era como se estivéssemos lá dentro. Fomos roubados. Veja só, quem tanto reclama das “influências externas” esquece facilmente quando nosso jogador foi expulso injustamente por um erro escandaloso do juiz.

O Palmeiras até hoje não assimilou o golpe. Entraram em Itaquera para nos humilhar. Nós resistimos bravamente. Lutamos. Rezamos com o fundo da alma. Suportamos a pressão do time da moda, jogando com aquele elenco simples que lembrava o Coringão de outros tempos. Aqueles times com jogadores limitados que eram verdadeiramente amados e respeitados pela Fiel.

Jogaríamos por uma bola. E esse momento chegou. O Maycon roubou uma bola na esquerda e avançou. Por duas vezes tentou tocar a bola para o Jô. Sim, a bola chegou. Chuta, Jô. Chuta. Juro por Deus que se essa bola entrar eu nunca mais xingo você. A vida passou como um filme na retina de todo corinthiano. Jô chutou. A bola passou debaixo das pernas do goleiro. Puta que pariu foi gol goooool do Corinthians!

E quanta coisa mudou.

Mudou também porque a Fiel é foda! Quantas torcidas brasileiras sabem torcer para um time sem valores reconhecidos? Apoiar um time considerado ruim (ainda que não seja)? Quantas torcidas sabem torcer o jogo tático. Um jogo em que o time “não ajuda a torcida”? Sem pressão avassaladora. Dizem que é o time que leva a torcida. Com o Corinthians não é bem assim. Quantas torcidas conseguem apoiar o time que joga na retranca? Sem afobar os próprios jogadores? Quantas torcidas vibram na mesma frequência energética que o time dentro de campo e pressente quando chega o momento de executar e definir a partida? Foi assim nesse jogo contra os porcos. Foi assim no jogo contra o Chelsea. Foi assim em tantas e tantas vezes em que o Corinthians foi conduzido espiritualmente para o seu destino.

É assim que é. Espiritual. O Corinthians lá dentro do nosso corpo, da nossa mente e da nossa alma. Para o povo suportar os dias tão difíceis que estamos vivendo e saber que a vitória, no jogo e na vida, logo vem.

Muitas coisas mudaram a partir daquele jogo. Aquele dia foi louco. Porém, dentre tantas coisas que mudaram, podemos dizer que mudamos o padrão energético que tínhamos durante muitos anos nos jogos contra o Palmeiras. Naquele ano de centenário do Dérbi, jogamos todas as tensões para o outro Parque.

Eles até agora não se encontraram. Vejam vocês. Quantas vezes os juízes já meteram a mão no Corinthians para ajudar o Palmeiras. Agora eles querem defender o direito de roubarem com um pênalti não existente.

Eles estão perdidinhos. E nós, por outro lado, não estamos eufóricos. Estamos conscientes das nossas limitações. Sem gritar gol antes. Sabendo que nosso elenco é limitado. Mas acreditando sempre. Torcendo para um Corinthians que joga daquele jeito que amamos.

Que São Jorge esteja conosco. Tomara que vençamos mais uma vez.

Ganhar ou perder, mas sempre com Democracia!

Veja mais em: Dérbi.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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