Sim, senhora CBF: as saídas de Vital e Pedrinho e as rédeas da Confederação Brasileira de Futebol
Opinião de Jorge Freitas
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O Corinthians perderá dois de seus jogadores mais escalados na temporada nas próximas partidas.
Embora Cássio e Fagner tenham sido convocados para a disputa da Copa América, que será realizada aqui mesmo no Brasil, a atenção dessa semana ficou por conta da convocação de Mateus Vital e Pedrinho, que deixarão o Timão para defender a seleção sub-23 na disputa do Torneio de Toulon, na França.
Não, Vital e Pedrinho não foram convocados para disputar as Olimpíadas ou, tampouco, o Mundial da categoria, mas sim para uma espécie de Flórida Cup das seleções de base, que não vale nada, absolutamente nada, a não ser exposição para que jovens promessas sejam repassadas a clubes europeus de maneira mais rápida.
Com isso, ambos os jogadores ficarão de fora dos importantes jogos contra Deportivo Lara, pela Sul-Americana, Cruzeiro e Santos, pelo Brasileirão, e, acreditem, também contra o Flamengo, no jogo da volta pela Copa do Brasil, partidas que podem decidir a ambição do Corinthians para a temporada após a Copa América.
Pedrinho e Vital são dois jogadores que ocupam a mesma faixa de campo e se ausentarão para a disputa de um campeonato que não vale nada. Dois jogadores que podem decidir partidas deixarão sua equipe para desfilar em gramados europeus com o único intuito de valorizar a imagem da base brasileira. Dois jogadores, em ponto de formação, deixarão o nível competitivo de sua equipe para bater uma bolinha "de preparação" lá na Europa.
Está certo que Pedrinho nem tem sido titular e que Vital ganhou a vaga há pouco tempo, mas a preocupação de Carille na dificuldade em substituir ambos os jogadores diz muito sobre a que ponto chega a subordinação dos clubes à toda-poderosa Confederação Brasileira de Futebol, ou apenas CBF para os íntimos.
É inacreditável a capacidade que a CBF tem de atrapalhar seus campeonatos tirando jogadores importantes de times que brigam pelas principais competições da temporada. Mas também, é tão inacreditável quanto a incapacidade dos clubes em contrariar a entidade máxima do futebol.
Não há nada, repito, nada (!) que obrigue o clube a liberar jogadores para esse torneiozinho de inter-temporada que acontece na Europa. Não é data FIFA, não é competição oficial. Mesmo assim, na realidade de perder dois jogadores, o clube se cala e, sequer, busca barganhar para a liberação de um deles apenas, já que dois da mesma faixa é uma ausência considerável para os jogos que virão por aí.
Temos que assistir calados a nossos jovens abandonando nossas principais competições em momentos importantes de decisões para passear na Europa e conhecer um mundo onde o futebol é muito mais bem jogado e valorizado. E isso não acontece apenas com o Corinthians, mas com praticamente todos os clubes do país, que se calam frente ao domínio da CBF e dizem "sim, senhora" para tudo o que ela gosta de impor.
O pior é que, como se não bastasse, não é apenas dentro de campo que a CBF interfere e se impõe sobre os clubes. Quando lançada a linda camisa corintiana em homenagem a Ayrton Senna - um ídolo mundialmente conhecido -, escrevi (numa coluna originalmente publicada pelo portal No Ângulo) que a exposição das marcas do times brasileiros é insignificante perto do que acontece com a da entidade.
É raro, para não dizer impossível, encontrarmos camisetas de clubes brasileiros, por mais lindas que sejam, em lojas da Europa, ao contrário do que acontece com a verde-e-amarelo, sempre bem expostas nas prateleiras do velho continente.
E tudo isso, claro, ainda fica pior pelo sufocante calendário que praticamente proíbe os clubes de desfilarem suas marcas em outros países, também ao contrário do que acontece com a seleção brasileira, que marca amistosos em qualquer momento e em qualquer lugar do planeta para satisfazer seus cartolas e investidores.
Mesmo assim e com tudo isso escancarado, a conivência dos clubes impera.
É uma pena que isso ainda aconteça em tempos de futebol profissional. São coisas como essas que puxam ainda mais o futebol brasileiro para o fundo do poço.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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